Meses depois, antes que o Senado Federal julgasse o impedimento do presidente, Collor deixaria o Palácio do Planalto em uma tentativa de renúncia frustrada. Os caras-pintadas sairiam novamente pelas ruas, comemorando o amadurecimento da democracia e a conquista popular.
Marcus Barreto tinha apenas 15 anos quando a "onda de denúncias" contra o ex-presidente se espalhou. Com o espírito crítico que diz ter herdado do pai, saiu pelas ruas de Salvador (BA) pedindo que o presidente deixasse o Palácio do Planalto. Marcus se orgulha de ter participado do movimento, mesmo consciente de que não foram os caras-pintadas que derrubaram Collor.
— Fui fazer o circuito do Carnaval daqui de Salvador, do Campo Grande à praça Castro Alves, com milhares de pessoas, todos de camisetas pretas e com os rostos pintados. Ao invés de trios elétricos e alegria, eram carros de som, e nós, indignados, gritando palavras de ordem como "Collor ladrão!" ou "Fora, Collor". Aquilo que estava acontecendo era, literalmente, a história sendo construída diante de meus olhos.
Hoje com 40 anos, o gestor Jefferson Affione lembra-se das passeatas em Goiânia (GO) durante meses, todas as semanas. Estudante, juntava-se com outros jovens para pintar cartazes, fazer faixas, distribuir panfletos e organizar as passeatas.
— Quando foi aproximando o impeachment, tudo que Collor falava virava motivo para passeata. Não foi só o domingo negro, cada barbaridade dita, a gente saía na rua. Durante as manifestações, era uma grande farra, com música, palavras de ordem.
O domingo negro aconteceu quando Collor, acuado pelas denúncias de desvio de dinheiro, pediu para a população que usasse verde e amarelo em uma demonstração de apoio. Mas o pedido saiu pela culatra. O presidente já não tinha a mesma popularidade do início do governo, principalmente após o plano Collor — que confiscou parte da poupança dos brasileiros. A população se revoltou com o pedido de apoio e saiu de preto para protestar.
Jefferson lembra que a força do movimento era resultado de várias insatisfações, mas, principalmente, do momento que o Brasil vivia.
— Nós vínhamos de uma relação de juventude em período militar, com a liberdade represada. Queríamos por para fora tudo que não pudemos por anos. Então, foi fácil conseguir pessoas para manifestar.
Sem violência
O jornalista Cosmo da Silva tinha 19 anos quando pediu pela saída de Collor nas ruas de São Bernardo do Campo (SP). Ele era do movimento estudantil e lembra-se de fazer rifas para conseguir dinheiro para o movimento produzir camisetas e faixas. A maior passeata reuniu 15.000 jovens no centro da cidade e, segundo ele, nunca houve registro de qualquer vandalismo ou violência.
— O movimento era muito organizado. Era uma juventude politizada, que realmente queria mudar a situação que estávamos vivendo. E era muito pacífico. O comando da polícia sempre chegava até o comando da entidade e no microfone pediam que não houvesse baderna, agressões. E nunca houve. As pessoas queriam a mesma coisa: Fora, Collor! Não tinha divergência ou problema.
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